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"isso é escrever. tira sangue com as unhas. e não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. você não está com medo dessa entrega? porque dói, dói, dói. é de uma solidão assustadora. a única recompensa é aquilo que laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. essa expressão é fundamental na minha vida."
(caio fernando abreu)

terça-feira, 8 de março de 2011

ciranda de pedra

sim, eu dormi na meio da minha cama king size.
conquistei o que vim buscar aqui, onde o vento é mais gélido e o alaranjar da tarde é enebriante.
te esqueci, te lembrei... não sei se isso vem ao caso no momento. no entanto, da mesma forma que me desapeguei, me apeguei.

e, definitivamente, isso não é bom.

depois disto, o amanhã é só neblina...
o coração sangrando...
o ar faltando...
é tudo o que eu tenho aqui...
não há nada que eu possa fazer...

e o resultado dessa ciranda de pedra é, tão somente:
eu indo,
você ficando...
eu ficando,
você indo...

não há vencedores,
há tão somente desencontrantes,
neste mundo de encontros.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

inri

"eu vou fazer tudo que sempre quis!
vou viajar, cantar, compor tudo que sempre esteve aqui.
vou rir, vou abraçar meus amigos, mudar de casa, pintar as unhas, gostar da vida.
dormir bem no meio da cama queen size.
conhecer um monte de coisas novas
viver mais, viver muito!
você não vai estar lá.
e eu não vou morrer, eu juro!
o mais triste de tudo
é que eu vou quase te esquecer...
porque esquecer tudo aquilo
aí sim, é a morte..."

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

todo sentido

era o tricotar de sua doce voz que me fazia perder o chão. a maioria dos sentidos foram levados com a rajada de vento que me cobriu quando você se aproximou de mim. em ínumeras parcelas (repletas de juros) de segundos, os sentidos se apuravam um a um, como numa rodada de carteado, onde cada um joga na sua determinada vez.
o primeiro foi a olfato. senti teu cheiro rude de longe, invadindo minhas narinas e perturbando-me a existência. as notas amadeiradas, com um delicioso toque de musgos venenosos, me entorpeciam, e, pela primeira vez, senti-me trôpega, sem o controle das minhas pernas.
imediatamente após a primeira nota invadir-me por completo o paladar ficou aguçado e, sim, eu tremi. me lembrei do teu gosto e de todo o prazer que teus sabores traziam. tua amargura coberta de geleia de cassis me  fazia lembrar da louca vontade de recordar todos os sabores que nunca havia provado.
estranhamente, o terceiro foi a visão. que juro que nem era necessária, pois... ao fechar meus olhos já poderia contemplar o prazer de ver tuas formas e expressividade. de olhos abertos ou fechados, você estava ali, na minha frente.
o tato. ah, o tato! meu corpo respondia ao seu toque em ondas e espamos. todas as terminações nervosas chocavam-se com a onda de frios e tremores quentes que nosso contato produzia. um vulcão em erupção. o choque das placas tectônicas. a pangéia. tudo.
mas, o que mais queria era o apurar dos meus ouvidos. o que mais desejava era o momento da audição. quando o tintilhar de tuas cordas vocais pronunciassem o que desejei sempre ouvir...
(...)
isso sim... faz todo o sentido.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

sola

acreditava no poder no eterno até sentir a tua luz ofuscar o meu olhar. eu até conseguia imaginar a eternidade nos enlaçando até sentir seu cheiro me invadir, levando em suas notas a minha sanidade. acreditava no "pra sempre" até perceber que o simples fato de me fazer perder a visão e o chão por uma única vez, valeu por uma vida inteira de promessas e amanhãs.

por isso, acredito no hoje. no hoje e mais uns segundos de beijos. e só.
só o hoje contigo me basta e me sacia.
só.

domingo, 22 de agosto de 2010

cri_cri


meu andar tem sido silencioso, e silencioso mesmo! tem sido tão sem som, que não poderia construir as frases que estou acostumada a tecer. queria dizer assim: "meu andar tem sido silencioso, como o grito às margens do ipiranga", mas... o cri-cri continua aqui, e não há mais nada além dele.
cri-cri.
sim, triste silêncio, me tirastes tudo. até minhas antíteses fostes capaz de levar. sim... minhas antíteses, minhas palavras, meu caos. tudo. absolutamente tudo levastes do nada que me pertencia. minhas fotos, minhas memórias, minhas outroras, minhas cartas, postais, mensagens, promessas e as batidas capazes de ritmar a vida.
ingrato silêncio. maldito ensurdecedor silêncio.
exijo.
quero.
desejo tudo de volta.
tu, que levastes minhas vontades, devaneios e promessas.
quero tudo de volta.
já disse e repetirei. quero meu pulsar novamente. quero meu coração rosa, iluminado, esperançoso, batendo serelepe, sem destino, sem sofreguidão. quero os dias mais coloridos, amanheceres mais amarelos e anoiteceres néon. quero.
quero.
e quero.
quero a vida sem mistérios e as mais simples complicações. quero o milagre, o áspero e o efêmero. quero o ouriçar do coração e a batidas dos pelos ao ver alguém passar.
sim, silêncio. vai-te embora. rala sem pestanejar, porque...
eu quero.
(cricricri)

me apaixonar...