...

"isso é escrever. tira sangue com as unhas. e não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. você não está com medo dessa entrega? porque dói, dói, dói. é de uma solidão assustadora. a única recompensa é aquilo que laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. essa expressão é fundamental na minha vida."
(caio fernando abreu)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

inri

"eu vou fazer tudo que sempre quis!
vou viajar, cantar, compor tudo que sempre esteve aqui.
vou rir, vou abraçar meus amigos, mudar de casa, pintar as unhas, gostar da vida.
dormir bem no meio da cama queen size.
conhecer um monte de coisas novas
viver mais, viver muito!
você não vai estar lá.
e eu não vou morrer, eu juro!
o mais triste de tudo
é que eu vou quase te esquecer...
porque esquecer tudo aquilo
aí sim, é a morte..."

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

todo sentido

era o tricotar de sua doce voz que me fazia perder o chão. a maioria dos sentidos foram levados com a rajada de vento que me cobriu quando você se aproximou de mim. em ínumeras parcelas (repletas de juros) de segundos, os sentidos se apuravam um a um, como numa rodada de carteado, onde cada um joga na sua determinada vez.
o primeiro foi a olfato. senti teu cheiro rude de longe, invadindo minhas narinas e perturbando-me a existência. as notas amadeiradas, com um delicioso toque de musgos venenosos, me entorpeciam, e, pela primeira vez, senti-me trôpega, sem o controle das minhas pernas.
imediatamente após a primeira nota invadir-me por completo o paladar ficou aguçado e, sim, eu tremi. me lembrei do teu gosto e de todo o prazer que teus sabores traziam. tua amargura coberta de geleia de cassis me  fazia lembrar da louca vontade de recordar todos os sabores que nunca havia provado.
estranhamente, o terceiro foi a visão. que juro que nem era necessária, pois... ao fechar meus olhos já poderia contemplar o prazer de ver tuas formas e expressividade. de olhos abertos ou fechados, você estava ali, na minha frente.
o tato. ah, o tato! meu corpo respondia ao seu toque em ondas e espamos. todas as terminações nervosas chocavam-se com a onda de frios e tremores quentes que nosso contato produzia. um vulcão em erupção. o choque das placas tectônicas. a pangéia. tudo.
mas, o que mais queria era o apurar dos meus ouvidos. o que mais desejava era o momento da audição. quando o tintilhar de tuas cordas vocais pronunciassem o que desejei sempre ouvir...
(...)
isso sim... faz todo o sentido.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

sola

acreditava no poder no eterno até sentir a tua luz ofuscar o meu olhar. eu até conseguia imaginar a eternidade nos enlaçando até sentir seu cheiro me invadir, levando em suas notas a minha sanidade. acreditava no "pra sempre" até perceber que o simples fato de me fazer perder a visão e o chão por uma única vez, valeu por uma vida inteira de promessas e amanhãs.

por isso, acredito no hoje. no hoje e mais uns segundos de beijos. e só.
só o hoje contigo me basta e me sacia.
só.

domingo, 22 de agosto de 2010

cri_cri


meu andar tem sido silencioso, e silencioso mesmo! tem sido tão sem som, que não poderia construir as frases que estou acostumada a tecer. queria dizer assim: "meu andar tem sido silencioso, como o grito às margens do ipiranga", mas... o cri-cri continua aqui, e não há mais nada além dele.
cri-cri.
sim, triste silêncio, me tirastes tudo. até minhas antíteses fostes capaz de levar. sim... minhas antíteses, minhas palavras, meu caos. tudo. absolutamente tudo levastes do nada que me pertencia. minhas fotos, minhas memórias, minhas outroras, minhas cartas, postais, mensagens, promessas e as batidas capazes de ritmar a vida.
ingrato silêncio. maldito ensurdecedor silêncio.
exijo.
quero.
desejo tudo de volta.
tu, que levastes minhas vontades, devaneios e promessas.
quero tudo de volta.
já disse e repetirei. quero meu pulsar novamente. quero meu coração rosa, iluminado, esperançoso, batendo serelepe, sem destino, sem sofreguidão. quero os dias mais coloridos, amanheceres mais amarelos e anoiteceres néon. quero.
quero.
e quero.
quero a vida sem mistérios e as mais simples complicações. quero o milagre, o áspero e o efêmero. quero o ouriçar do coração e a batidas dos pelos ao ver alguém passar.
sim, silêncio. vai-te embora. rala sem pestanejar, porque...
eu quero.
(cricricri)

me apaixonar...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

a busca da busca que me busca para buscar

o que eu busco é a auto-libertação, com asas e cores enxutas.
o que eu busco são os milagres cintilantes e todas as luzes no final dos túneis infames da minha existência.
o que eu busco é a não-sintese da vida: sem vírgulas e pontos; mas, recheados de mesóclises e apetrechos.
o que eu busco é a presteza de ser feliz, a firula maior do sorriso e a marca de batom na gola branca.
o que eu busco é a saudade do futuro e todas as surpresas destinadas aos passos que me propuser a dar.
o que busco é o gosto do caroço do limão, que sempre deixado de lado, amarga sua existência.
o que eu busco é o aroma da vida, do vento, das mentiras jogadas a sua própria sorte.
o que eu busco é a riqueza da pausa do retrato, e a eternização dos momentos bons (e maus).

o que eu busco?
ah! eu não busco é nada!
o que eu busco é a constante busca da busca que me busca pra dançar...
e, em seu gingado envolvente, me leva sempre a...
buscar... sem a mais remota chance de...
achar;

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

em minhas mãos

Um velho índio descreveu certa vez em seus conflitos internos: “Dentro de mim existem dois cachorros, um deles é cruel e mau, o outro é muito bom e dócil”. Os dois estão sempre brigando. Quando lhe perguntaram qual dos cachorros ganharia a briga, o sábio índio parou, refletiu e respondeu:

"Aquele que eu alimentar".

terça-feira, 20 de julho de 2010

sussurro para você

hoje, meu post vai para todos aqueles que trazem cor ao meu dia... que, pelo simples fato de existirem, já melhora a minha condição. meu post vai para aqueles que sabem ler meus olhos e que escutam meu silêncio com maestria. que me aturam, que me aconselham,  que rolam no chão comigo, que andam à pé sem destino só para me ver bem, que abdicam de tudo para ver o sorriso brotar em minha face novamente, que enxugam minhas lágrimas e que me fazem acreditar em um amanhã melhor...

obrigada Deus por dádiva tão linda quanto esta: meus amigos!
e, como diria shakespeare... falais baixo se falais de amor... por isso, ao som de um sussuro digo:

feliz dia dos amigos! (shhhh)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

condicional

antes de você.
fria. vazia. sem nada. absolutamente nada. esse é o meu raio-x.
carregada. entulhada. exposta. doente. esse é a minha condição.


depois de você.
putz... era isso que eu queria saber!

domingo, 11 de julho de 2010

gotas acidentais

tirei delicadamente as poucas peças de roupa que ainda restavam a esconder meu corpo. ao tocar os meus pés no chão, pude sentir a marca dos teus pés, que provocou choques em todo o meu desnudo corpo. como em um filme da década de 60, coloquei meu pé na banheira, e, previsivelmente, o outro. levei minhas mãos na torneira, e, premeditadamente, tentei alcançar a mesma temperatura do banho anterior. peguei meus sais de banho e a espuma, joguei cirandalmente em meu redor, e, deitei-me poeticamente sobre aquele leito quente e desejável.
ao som de uma boa taça de espumante, fechei a torneira. juro que fechei meus olhos por um momento, na busca de fugir de pensamentos e desejos errados. mas, aquelas gotas caindo, eroticamente  me despertaram da minha viagem em meus deveres e condutas. 
elas me fizeram lembrar que, o banho antes do meu, foi o seu, e que, deveras, aquelas mesmas gotas  eróticas e poéticas rolaram por todo o seu corpo, levando pro ralo tudo aquilo que não serve. sim, aquelas mesmas gotas te revitalizaram, limparam, te acariciaram e, por um longo momento, invejei-as.
despertando, lembrei-me que estavas neste exato momento no meu quintal, finalizando o trabalho que havia começado, antes de ter caído acidentalmente na minha piscina, e, por mais que tentasse fugir desse fato, eu tinha certeza, que as coisas convergiriam por um caminho que eu não queria.
mas que desejava, com toda a minha força.

ketylaine¹ é casada há 13 anos e se apaixonou pelo adestrador do seu poodle.
seria cômico (se não fosse trágico).

¹ nome fantasia para preservar a identidade das entrevistadas.

sábado, 26 de junho de 2010

bittersweet

"você não existe. eu não existo. mas estou tão poderoso na minha sede que inventei a você para matar a minha sede imensa. você está tão forte na sua fragilidade que inventou a mim para matar a sua sede exata. nós nos inventamos um ao outro, porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo. e porque nós inventamos um ao outro? porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo. 
e porque nos inventamos, eu te confiro poder sobre o meu destino e você me confere poder sobre o teu destino. você me dá seu futuro, eu te ofereço meu passado. então e assim, somos presente, passado e futuro. tempo infinito num só, esse é o eterno."
caio f. abreu


ele sempre diz o que eu quero dizer...
e nesses dias em que as palavras tem fugido de mim, nada como cirandar com ele...
eterno caio f. abreu!

domingo, 13 de junho de 2010

dia dos namorados macabro

hoje, seria um daqueles dias que precisaria rasgar o meu peito, na constante e falha pretenção de liberar tudo aquilo que um dia esperei vazar. se pudesse escolher ser qualquer coisa, no momento, escolheria ser uma nascente, que, por condições naturais, deságuaria em outros rios e mares e não teria a preocupação com essa sina. talvez, poderia também ser o sol da tua manhã, aquele que aquece seu corpo e que traz um leve tom ruborizado às tuas doces maçãs. ou ainda, quem sabe, me transformaria em uma leve e gélida brisa , daquelas que nem sequer pedem licença para te acariciar, te rachar; podendo tocar seus lábios em todas as esquinas das madrugadas onde vagas. melhor ainda! desejaria ser uma louca tempestade... é! daquelas que te pega desprevinido, sem o assombroso guarda-chuva-vida; que te gruda, que te faz correr, ofegar por abrigo... que te molha e revela todas as tuas formas mais secretas e multicoloridas escondidas entre as muitas mudas de roupa que usas para se proteger de tudo e, todos.

(...)

talvez, estes tantos desejos sem sentido ou condições de materialização, se resumissem em apenas um único desejo: descobrir uma forma de te encontrar entre estas esquinas escuras onde vagas, sozinho, procurando aquilo que não é passível ser achado. te encontrar, meu bem, e dividir toda uma história, todo um desejo, toda uma vida. mas, eu sei que não há nada a esperar. se houvesse, talvez não estaria aqui, sozinha, olhando as paredes brancas que me cercam, perdidas em meus pensamentos e devaneios. e, somente depois de constatar isso, e de dividir estes tantos quereres clichês, só me resta o utópico desejo de sonhar... e quem sabe, talvez, seja agraciada com a bênção de nunca mais acordar.

priscilla nunes precisa de férias pra sua mente.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

tinto

tudo aquilo que meus ouvidos captavam do seu tom de voz me faziam, literalmente, não estar ali. tuas palavras tinham o poder de teletransportar-me para lá, pra dentro de tua boca, onde poderia me engalfinhar com tua língua. teu olhar por cima daqueles óculos de armação brega e ultrapassada me faziam enojar-te ainda mais. o teu ar de sabichão, tuas sobrancelhas envergadas e tuas críticas infundadas sobre a carta de vinhos me faziam regurgitar você e... te desejar ainda mais.
teu cabelo sem corte, teu tênis gasto, sua blusa encardida e tua barba por fazer me irritam profundamente, e tudo isso é tão lindo e... hum... apetitoso... e... ponto pra você! nesse jogo doentio, quem sempre sai ganhando é você, com este carisma torto, esta inteligência manca, este teu gosto duvidoso, esta maldita má-educação e teus quereres mimados.
e quanto a mim... não te preocupes: eu fico aqui, como sempre fiquei, comendo as migalhas que caem de tua farta mesa. aceito a minha condição. o bom disso tudo, é que és generoso. sim, sempre me deixas de lembrança a rolha do melhor tinto da carta de vinhos que cisma em criticar todos os dias com o peito estufado e birra na alma.

o vinho que bebes? é doloroso perceber que se trata de algo meu, que se trata de algo inteiramente vital pra mim, e, com o coração explodindo de medo e cansaço peço: afaste de mim esse cálice... este cálice que brindas todos os dias, este cálice de um triste vermelho-tinto de sangue.

sangue-meu.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

no msn? sério msm?

"priscilla nunes diz: 
olá! que saudades! como você está, meu bem?

*** diz:
Oi, linda! Que saudades mesmo!
Bom, ultimamente tenho procurado a felicidade... =)

priscilla nunes diz:
procurando a felicidade? eu acho que não é bem assim que banda deve tocar não, meu bem... fica a dica: a gente nunca acha a bendita... ela que nos acha, sempre!

*** diz:
será?

priscilla nunes diz:
sim... eu acho que sim... todos nós pensamos que a felicidade está em uma caixa, escondida em algum lugar... como um tesouro. tem gente que passa a vida inteira tentendo achar o tal mapa que o levará até "mina do tesouro"... só que a felicidade não é 'escondível'... muito pelo contrário! ela é onipresente, meu bem... ela está em tudo, em cada molécula de ar que enche seus pulmões e te traz um novo fôlego... ela está onde você quer que ela esteja: no seu trabalho, na música que envolve sua alma, na dança que movimenta seu espírito, no amor que embala seu coração, no carinho dos seus animais de estimação, no conforto do banco do seu carro, na caminha quentinha que te espera depois de um dia cheio... no amanhã,  meu bem, e na fé que o faz caminhar... pra mim felicidade é isso! melhor, não sejamos hipócritas em resumi-la... felicidade é tudo que envolve o seu mundo e o mundo dos outros! e se houver um baú mesmo, quem está dentro do baú é você, juntinho da sua felicidade... você e a felicidade nasceram juntos, meu bem! são inseparáveis e onde você estiver ela estará, se você sempre se lembrar disso...

*** diz:
Ae, tu perdeu a noção, poetizar sobre a felicidade no msn? putz... perdeu a noção meeermo!
priscilla nunes diz:
que bom que eu perdi...

*** diz:
Heim? O.o

priscilla nunes diz:
espero que você a perca também."

sexta-feira, 28 de maio de 2010

riaida


era um entardecer como outro qualquer quando virei para ele e disse respondendo uma pergunta que não havia sido direcionado a mim: - "encontre-me entre dois vazios" -. acho que foi a frase mais verdadeira que já proferi em toda a minha vida. em cada letra unida havia a força e o gás que a frase precisava. as entrelinhas estavam carregadas desta tal constatação. - "um mergulho em você seria fatal" - respondeu-me e, timidamente, virou-se e partiu. sem adeus, sem paz. pra nunca mais voltar.

e é exatamente por isso que estou só, escrevendo essas palavras negras sem a cor que outrora costumava ter, condenada à mesmice de sempre, por minha fútil  e inútil profundidade. submersa entre dois nadas, sem chances de voltar a respirar.

não que te quere. não, não te quero mesmo. te desejo. e esse desejo é insano. fico abestalhada só de pensar em te sentir do meu lado,  como com farinha as tuas palavras e sonho em completá-las, sim! quero fazer um pirão contigo, rir das tuas piadas sem graça, fazer amizade com teus primos, viajar nos teus planos e rir com sua mãe num almoço de domingo.

queria ser sentida. assim, seria querida e tudo bastaria.

tudo mesmo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

sacacá

eu pergunto: cadê o meu manual de instruções? cadê o manual de instruções da minha vida?
como é que pode?! era só o que me faltava ser acometida por um erro mecânico na hora de empacotar a minha vida lá na linha de produção do criador. quando abri minha caixa tava lá: 879 cabos, 2487 extensões, 1820 pen drives e um aparelho muito complexo cheio de "warnings" do tipo: não conecte o cabo 87 se não leu a instrução da página 48 do manual... tá... mas...
 ONDE ESTÁ O MEU MANUAL?
e a pergunta persiste.

priscilla nunes nunca acha o wally.

terça-feira, 25 de maio de 2010

desabafo

AHHHHHHH!

precisa dizer mais alguma uma coisa?

domingo, 23 de maio de 2010

resultado: contaminada


impressionante como tudo parece mais simples na infância. nada é pesado demais, nada é complicado demais. me lembro de várias coisas que me aconteceram quando era pequenininha e, não adianta, era diferente. acredito que as coisas vão se tornando densas a partir do momento que você permite isso acontecer, quando se "deixa amadurecer". me lembro quando mamãe foi operar a coluna cervical, e todos diziam que a cirurgia era de risco, mas, minha mente (que ainda não tinha permitido ser contaminada) simplesmente não se turbou. deixou-me em paz. confiante, e, deu no que deu. sucesso.
agora, com 21 anos, o mesmo não acontece, e o resultado é antagônico e irônico: sofrimento, desespero, falta de paz, noites mal dormidas... ando sem confiança no mundo, nas pessoas, no amanhã, e, principalmente no agora. é, tô contaminada sim. contaminada por um vírus mortal que desencadeia uma série de sintomas medíocres e mortais:  falta de esperança, falta de fé, falta de não-saber-do-que-se-trata, falta de bonecas para se dar banho e sonhos lunáticos-improváveis para se utopizar.
chego a conclusão que, talvez, se eu fosse ainda criança a situação seria completamente diferente hoje. chego também a conclusão, que tudo que está acontecendo é minha culpa, já que, só se leva a leveza de uma preocupação-criança, quem se deixa contaminar. e... sim. estou doente...
eu me contaminei com o vírus do amadurecimento.

priscilla nunes tem 21 anos com as preocupações de uma mulher de 75.

sábado, 22 de maio de 2010

magnólia


"era uma cinza-empoeirada tarde de 1942, quando aqueles arbutos de concreto projetaram em seu rosto aquela sombra gélida e negra. não sei se por obra do destino, ou não, meus olhos encontraram com os seus. não pude me conter com sua face envelhecida, cheia de marcas do tempo. mas, de uma coisa eu tinha certeza: seus olhos eram os mesmos. aqueles dois mundos negros por quem me apaixonei na juventude. te perguntei pela vida e nada me dissestes. talvez, sua história tenha sido silenciosa como a minha. como eu queria voltar atrás, como eu queria, minha magnólia. 
queria tê-la em meus braços pelo menos uma vez, beijar seus lábios, concordar com seus sonhos e projetos para nós dois. como eu queria, magnólia. como eu queria voltar no tempo, teletransportar-me para 1888, quando pela primeira vez te vi e, disse para mim mesmo que o meu amor por você seria para sempre; quando seus cabelos ainda eram negros e sua pele sedosa como o vento. queria ter podido acreditar que você me amava da mesma forma, com a mesma intensidade, mas... tudo passa. tudo passou e tudo o que passa, irremediável é.
hoje, constato, cheio de infelicidade, que a única coisa que me restou foi a lembrança dos teus olhos e, todo o resto de mim são os escombros da minha decisão - decisão de não ter dito, nem ao menos uma vez, que te queria para sempre junto de mim."

joaquim morreu em uma noite cinza-empoeirada de 1942 e 
me visitou esta noite, me chamando de magnólia.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

carne-viva


ao compasso do estremecimento e, de toda a latência do que se entende por compressão, que eu sinto o teu gosto mais sublime, o cheiro da sedução, que me embala, me ouriça os pelos e me arrebita a alma.
meu corpo corresponde ao teu ritmo, invoca-se com teus anseios e te devolve, tudo em dobro, triplo, ao quadrado... ah! a aspereza da tua barba por fazer e o enxame de teus exalares me raspam, me lavam, me ralam. em carne-viva fico, em carne-viva sempre estou - pelo menos quando se trata de você.

tua boca na minha é corpo, é alma, é feromônio, é saliva, é tensão, vibração, tesão e luz. muita luz.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

yelda


no afeganistão, a yelda é a primeira noite do mês de jadi, a primeira noite do inverno, e a mais longa do ano. a tradição da yelda seria de que aqueles meses eram enfeitiçados, para as quais as chamas das velas se precipitam, e para o alto das montanhas nos quais os lobos sobem em busca de sol. jurava-se que quem comesse melancia na noite da yelda não sentiria sede durante o verão seguinte. quando fiquei mais velha, li nos meus livros de poesias que a yelda era a noite sem estrelas em que aqueles que sofrem por amor permanecem acordados, suportando a escuridão interminável e esperando que o nascer do sol traga consigo a pessoa amada. depois que te conheci, todas as noites da semana passaram a ser yelda para mim.

ㅤ ㅤㅤ ㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ - the kite runner, (149;148)
 
ps.: o sol da manhã depois da minha yelda: você.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

polaróides urbanas [1]


quero buscar abrigo no teu chapéu


neste louco tédio, na sujamente tua


e encontrar lá dentro toda esta luz que irradia sob o teu véu

 

eu juro, vou invadir seu apartamento e cada cubículo de você



de maneira irreverente e corajosa


vou bagunçar a tua ordem e acabar com tuas manias positivistas


só para você ver no escuro do mundo o delicioso constraste do prazer!


ah! como eu quero te alegrar com todas as cores da paleta de um pintor


 suscitar contigo sonhos antigos e projetos altos



 e por fim, em tuas asas 


declamar poesias de amor.


rio, meu lindo rio... minha inspiração!

sábado, 15 de maio de 2010

não_ra_paz

eu vim em paz. nem com força à bater no teclado estou. estou aqui com a serenidade de um lago e a mansidão do céu azul. tenho buscado o céu azul. desses com pássaros livres e aviões. tenho buscado o céu noturno também, com pirilampos e estrelas escondidas. acho que esta busca se deu principalmente por você e todo este sentimento que estou redundantemente sentindo. não digo que é amor, e nem ousaria a reduzir tudo, tudo isso que sinto,  nesta única palavra. não mesmo! seria tolice.
eu vim em paz, sem dúvidas. vim em paz pois tudo o que eu sinto por você deriva da paz: a expectativa, os sinos na esôfago, o teu duplo e esquivo olhar, tuas longas e finas mãos, tuas piadas, tua inteligência, seu dom de saber das coisas, tua mistereza, tua distância, o teu não-interesse...  não rapaz. calma, eu juro que vim em paz.
não quero te assustar, essa não é minha missão. não agora. mas também não posso ser hipócrita tentando te fazer achar que o meu querer se resume apenas nas tuas palavras arrumadas, em tua inspiração sagaz,  na tua coleção de discos de vinil, tuas programações fantásticas, tuas eleições afetivas, teus livros empoeirados... meu querer é bem mais simples. pelo menos pra mim. o mais interessante é que mesmo com todas as cicatrizes do ontem eu me deixei envolver por sua luminescência. você chegou como um pirilampo a saracotear na imensidão escura que me cercava . tua luz me trazia tanta paz que...vulpt. me encantei por você, meu bem.  
vou te contar um segredo: é missão de paz sim, apesar da nãopaz me invadir sempre que me refiro à você. a nãopaz é a única coisa que dói nisso tudo... dói porque eu tenho certeza que nem lerás todas essas palavras soltas que te escrevo hoje, sentada nesta cadeira dura a sonhar em ser a tua eleita para as noites frias de maio e tua companheira nas aventuranças por aí, neste mundão bão, meu nãorapaz.

adelaide sente. sente muito.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

unknown

me dá um louco frenesi quando estou escutando uma música em um player qualquer e constato que não sei quem canta e que nem mesmo sei o nome da música: "título desconhecido", "unknown" e seus derivados me irritam! me vem uma fúria que quase me leva a destruir o mundo com as bombas de sódio e potássio que entopem minha membrana plasmática.
na verdade, o que realmente me irrita é quando a música me cativa e me leva a pensar o dia inteiro somente  nela, tentando por (a+b) descobrir quem a criou, quem a cantou, quem a sentiu. sem falar na demora para se constatar o apreço. putz! só descubro que gosto quando a música está quase acabando, ou seja, não tenho nem a chance de sair correndo e me proteger do fascínio eminente que estou prestes a me submeter.
o mesmo acontece com você, ser-unknown, que me envolveu até não poder mais, me fez te ouvir até o final  e me prendeu em seus encantos. por sua causa passo dias e noites a tentar te decifrar, procurando pistas onde não existem e restos de rastros indecifráveis. diga-me ao menos seu nome, seus autores, sua composição e melodia pois já me cansei desta procura sem fim. corra, se mova; antes que mude de faixa sem ao menos saber o motivo de meus fascinios e delirios por seu conjunto.

priscilla nunes é fã da matemática e da biologia aplicada.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

lugar certo


aqueles pombos... ah, aqueles pombos! como me trazem repúdio e, ao mesmo tempo paz! é sinal de que estou no lugar certo. e as pedras portuguesas? é, aquelas fora do lugar que me fazem quebrar o salto, ou, na pior da hipóteses, quebrar o pé. mas não faz mal. é nessa constatação que sei que estou no lugar certo. meu lindo rio! como eu te quero bem!


o meu lugar certo é aquele que quero estar. e hoje, rio, você foi o meu lugar. seus prédios, calçadas, trânsito, sujeira, cultura empilhada, camelôs, morimbundos, barulho, stress, semáforos, clima, cor, samba, botecos, história, atmosfera... o que seria de mim se você não existisse?


consigo te entender tanto... sua ginga, mandinga, fadiga. não te conheço bem, mas te sinto como um pedaço meu, um caso de amor em um período não muito distante, porque, deveras, estais em mim e, inevitavelmente, estou em ti.


rio pra quê te quero?
não me restam dúvidas: te quero para ser feliz!

domingo, 9 de maio de 2010

miragem

eu só queria que você soubesse quem eu sou de verdade. queria me permitir ser vista assim como eu me vejo. inteira, cheia de máculas limpas e sujeiras alvas. queria ser decifrada, devorada por seus julgamentos e depois, ser jogada no tapete da sua sala. é, aquele mesmo que você pisa todos os dias quando tira os sapatos; aquele que você adormece quando vê um filme chato; aquele que você simplesmente limpa os pés para não sujar o sofá. só assim, talvez, pudesse te dismistificar, sentir na pele seus delitos e imperfeições. ver onde sua unha encrava e onde o sinto aperta. só assim não te acharia um sonho impossível. só assim te acharia gente, não uma miragem.

quero

eu quero o beijo com gosto de frutas secas e um hálito viscoso como a nódoa. quero o grude da cica e a aspereza do abacaxi de tuas maçãs. quero a vida. quero o mar. quero o mais lânguido veneno. quero o espinho do cacto à invadir minha pele, o cheiro do couro da tua pasta, o visco da tua saliva. quero o impacto e o pacto. quero o atrito e a artrite. quero o nada. quero o vazio.

mas antes de tudo - quero você.

carregando...

preferia os tempos de ontem. aqueles pessoais. bem reais. época onde tudo era manual, à carvão, olho por olho, dente por dente. tempo em que se andava de mãos dadas em volta do chafariz, que domingo era dia de almoço em família, que a notícia chegava à cavalo, que se soltava pipa no fim da tarde no morro do holofote e que os pés ficavam encardidos com o futebol  de sábado no terreno baldio do seu valentim.

tudo era melhor. as paqueras eram sob a luz do luar e o lenço tinha um papel importantissimo para conseguir um último olhar 43 do homem amado. me lembro bem, como se fosse ontem (e era mesmo), que quando tinha baile no clube da minha cidade, eu e minhas amigas ficávamos a tarde inteira nos arrumando: rouge, bobs, pó de arroz, unhas enfeitadas, corpetes e anáguas...

hoje tudo perdeu a magia. e, para um jogo de sedução nada mais disso existe: paquera é pela internet, flores são cheias de purpurina e não param de piscar. frustração é sinônimo de "scrap" não respondido,  quando ele não está online, caixa de e-mails vazia, secretaria eletrônia com "ze-ro men-sa-gens" e sms sem resposta.

em meio a todas estas abas abertas, o "F5" se torna o nosso maior amigo e, por falta de tempo nesta meleca de mundo globalizado, todos os encontros são via msn, com direito a winks, emoticons e web cam... que tédio, não?!

ps.: tá se sentindo feia, meu bem? dica: repagine seus avatars, mude o layout do seu blog, intupa suas páginas de relacionamento com novas fotos e tudo ficará bem. eu juro!


priscilla nunes tem 80 anos, tem msn, orkut, facebook, twitter, formspring.me, livemocha, blogger, 4 contas de e-mails, 2 celulares, usa anáguas e ainda chama blush de ragatanga, ops, rouge.

sábado, 8 de maio de 2010

imprestável

rio de janeiro, 08 de maio de 2010.

meu rei,

está em teus olhos o lar que procuro abrigar-me. estes mesmos olhos infinitos é onde quero embriagar-me. o teu conjunto é uma alucinação, e sem ao menos saber, geras em mim; obssessão. quando fecho meus olhos e penso em você sinto raios e campanhias dentro de mim indicando que você é o meu futuro.queria abrir meu coração e pingar em tons coloridos toda esta satisfação, satisfação esta em amar-te, por mais que em silêncio, amar-te por mais que nem saibas que te dedico tudo que sou, amar-te. pois se não te amasse, os dias seriam insípidos, incolores, desgraçados e estúpidos. um buraco-negro levando para si toda a satisfação que tenho em... amar-te..."

adelaide é baiana, brega e muito perfeccionista.

maravilha!

uma breve introdução: fiz esta crítica para postar no blog da minha amiga Clarice Machado (http://pop-corn-filmes.blogspot.com/2010/05/ola-pipoqueiros-estou-um-pouco-enrolada.html) e, como o filme mecheu muito com meus recentes estúpidos gritos, resolvi postar aqui também!


"alice no país das maravilhas" é o retrato fiel da Inglaterra Vitoriana, época de grandes transformações e descobertas; um  período de profundo realismo que se esforçava para dizer toda a verdade, mostrando as doenças morais e físicas como elas eram, porém apontando para um caminho que proporcionava bem-estar e esperança. os romance procuravam achar a verdade e mostrar como ela podia ser utilizada para elevar, espiritual e moralmente, a humanidade.

sou meio suspeita para falar, afinal, sou fã de Carroll! o livro é um dos principais percursores do modernismo, uma obra de incontestável valor! sou muito fã de Tim Burton também, e o que é mais brilhante no filme é a re(construção) de uma nova aventura em um "país das maravilhas" já conhecido anteriormente por todos nós.


ao contrário das tantas críticas negativas que tenho lido à respeito do filme, "alice no pais das maravilhas" só não é bom para quem não abriu o coração para sentir as entrelinhas do filme: personagens cheios de manias  que arrancam gargalhadas do público (como a lebre de março),  personagens com trejeitos loucos e doces , que encantam os expectadores (como o chapeleiro maluco),  personagens com condutas duvidosas (como o gato risonho que, quando aparece, rouba a cena), a crise da adolescência vivida por todos nós (por isso, a grande ênfase em alice não saber quem ela é, ou pelo menos pensar que não é a alice certa) e por fim, as cores (fato este que achei estranhíssimo vindo de Burton).


o filme nos dá lições preciosíssimas, capazes de elevar a humanidade, e isso, Burton cumpriu religiosamente: 
  • ser criança (mesmo que adulto);
  • acreditar em coisas impossíveis (pelo menos "6 antes do café da manhã");
  • vencer gigantes (mesmo que não nos sintamos capazes);
  • abraçar a nossa loucura (mesmo que a achemos "louca" demais);
  • pessoas podem mudar;
  • ser amado é muito melhor que ser temido;
  • o que devemos fazer ninguém fará por nós;
  • acreditar na paz;
  • respeitar os seres vivos;
  • ser corajoso é fundamental (não perca sua moiteza);
  • livre árbitrio (somos responsáveis por nossas escolhas);
  • acreditar/confiar no poder da transformação e, por fim;
  • crescer e descobrir quem realmente somos;
  • que tudo no final dá certo (o bem sempre vence o mal).
      com interpretações incríveis, com esquetes memoráveis, "alice" é um verdadeiro deleite à nossa loucura e imaginação, e posso garantir que, mesmo que não goste da história, sairá do cinema, pelo menos, com muita esperança no coração.

      ps1.: veja em 3D... é incrível!
      ps2.: qual é a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha?
      ps3.: estive pensando em coisas que começam com a letra M, como:
      maravilha! sim, uma tremenda maravilha!

      sina

       _ que pena... deve ser muito triste a solidão...

       _ não vejo nada de triste nisto! muito pelo contrário, vejo profundidade! sandálias gastas, poeira nos pés, calcanhar rachado, nascentes múltiplas no rosto, roupas surradas, mente cheia, experiências únicas, segredos profundos, saber incontestável...

      _ tenhas piedade! não ves que este pobre homem está sem rumo? que não tem para onde ir?
      _ não te equivoques. solidão é sina! ele sabe muito bem para onde está indo!

      transplantal

      seus olhos eram dois faróis naquela estranha-escura estrada. suas roupas chamavam atenção sim, pois eram coloridas com a tinta de um arco-iris; daqueles iluminados que surgem após uma chuva de verão. mas, não tinha jeito. apesar de serem negros, seus olhos captavam a essência daquele momento, daquele dia normal, desses que as pessoas correm para pegar o ônibus ou para aproveitar o sinal fechado.
      seus olhos captaram a correria, o atraso, a eminência de perder o emprego, a aula, a prova, o pão, a água, a vida. tudo esvaía quando, retilineamente/de forma um tanto curva, meus olhos encontravam com os dela. me chamou àtenção quanto amor dedicava àquela flor desbotada, sem graça, sem cheiro, sem vida. era uma relação quase que substancial, de dependência... o retrato do apego intenso, vival, transplantal. instigante.
      com um sorriso de lado a lado, passava suas mortas pétalas no pêssego do seu rosto, como se quissesse transferir vida... seu jogo corporal me dizia "sei que nada posso fazer, não há chances" mas... seus olhos, aqueles que possuiam a luz de mil estrelas, me diziam outra coisa: "vai dar tudo certo".
      e daquele sonho-real-sonho me acordei quando olhei o relógio e vi que já se passavam das 7.

      quinta-feira, 6 de maio de 2010

      sans titre

      estou anotando tudo o que percebo ser inexprimível
      quando completar tal missão
      volto para dividir com vocês.

      quarta-feira, 5 de maio de 2010

      prata

      era uma noite fria de luar. sua luz invadia a sala de dormir e trazia um tom prateado ao ambiente. suas mãos  sobre as minhas passavam-me a segurança, a clareza e a luz que tanto precisava. elas eram frias e aveludadas, causando-me arrepios e descargas elétricas. estas mesmas mãos possuiam o poder de modelar-me, amassar-me e (re)construir-me ao seu bel prazer. seu corpo tocava ao meu sublimemente; como um violonista toca seu instrumento. suas preces silenciosas inundavam a paz que não era minha. seu suor-seco molhava minhas têmporas, e naquele mesmo instante eu pude perceber que era tua. toda tua. inexoravelmente tua.

      a lua congelou-nos. transformou-nos em uma massa só. nunca mais fez frio.

      amor-próprio-amor


      silêncio-gritado
      sonho-real
      felicidade-infeliz
      estupidez-bendita
      vento-calmo
      vida-mortal
      paz-turbulenta
      clara-escuridão
      inteligência-ignorante
      andar-voante
      crescer-diminuído
      perda-esperada
      matemática-desejável
      grito-silenciado

      eu-você
      tudo
      inexoravelmente
      nada.

      terça-feira, 4 de maio de 2010

      bagagem


      é o peso deste mundo pesado
      que faz o mundo repleto de peso
      redundância pesada
      relutância de meia-tonelada

      é o peso nas costas que te faz envergar
      mas nem por isso corcunda ficarás
      é o peso nas pernas que te faz cair
      mas nem por isso vais desistir

      é o peso oriundo da mente
      terrível serpente
      que faz o pensamento rastejar
      mas nem por isso vais definhar

      acredite e não se iluda
      peso é peso; é bagagem não-enxuta
      cada um cuida da sua
      e a vida continua

      carregue o peso da dor
      carregue o peso da cor
      carregue o peso da pena
      carregue o peso da hiena

      carregue o peso do mundo
      carregue  o peso do defunto
      carregue o peso da toca
      carregue o peso da toca

      carregue o peso da prima
      carregue o peso da rima
      carregue o peso do amor
      carregue o peso do odor

      carregue o peso do peso
      carregue a bagagem
      e carregue mesmo!

      sábado, 1 de maio de 2010

      bendida chupeta


      "_ jóia?
      _ heim?
      _ olha, o maércio já chegou em casa... era bateria mesmo... o jorge deu uma chupeta e tudo ficou bem, graças a deus!
      _ hãããm... que bom que o maércio já chegou e que era só a bateria... ainda bem que o jorge apareceu para dar a chupeta...
      _ jóia?
      _ o único problema é que eu não sou o jóia...
      _ heim? ai meu deus, que vergonha! quem é que tá falando?
      _ ué, é você! mas isso não importa... o que importa é que tá tudo bem... bendita seja a chupeta do jorge! (tum tum tum)"


      priscilla nunes às vezes confunde o ínicio dos números guardados em sua cabeça.

      sexta-feira, 30 de abril de 2010

      alinhar à direita-esquerda


      não sou o que você quer ver
      e muito menos o que você espera de mim
      sou apenas uma gota no meio
      de toda esta tempestade que é o viver
      e só espero um dia te impactar
      te encontrar no meio de você mesmo
      entre seus paradigmas infundados
      entre o que você projetou para você
      que tenho plena certeza
      que nem é tão bom assim quanto você acha

      quero te fazer provar outras verdades-mentirosas
      te fazer delirar em meio a tantas outras coisas que ainda não sabes
      te impactar, meu bem, é o que desejo todos os dias

      que o meu sabor ardido
      o meu cantar tempestuodo
      e que o meu mal-dito cheiro chegue até a ti
      em forma de poesia desconexa, em forma de amor tremeluzente

      que eu te desalinhe
      ora para esquerda
      ora para a direita

      e que o tempo faça o resto
      que o tempo faça tudo.



      priscilla nunes não sabe qual é a diferença entre direitas e esquerdas.

      quarta-feira, 28 de abril de 2010

      metamorfose

      as cores matinais realçavam seu olhar marrom-claro. os raios distorcidos do sol destacavam as linhas irregulares de um verde jamais visto no olhar de adelaide. era certo que existia uma certa estranheza em seus pequenos olhos. era desproporcional o caminho traçado pela força da queda d'água que a inundara na madrugada anterior. o que se via hoje, depois do café, era tão somente as marcas do devastador córrego. as cortinas alaranjadas do quarto de adelaide ganhavam um contraste hipnotizante com o sol das 6h15. e foi, exatamente este show silencioso que fez com que a cascata em seu olhar simplesmente falecesse - aquela cor era a personificação da esperança.

      adelaide passou a madrugada inteira a pensar na tal lagarta azul que virara borboleta. pensou na beleza do poder de transformação e como deve ser dolorido acreditar que aquele período de reclusão é necessário para algo maior. constatou que para evoluir é preciso deixar-se evoluir, e que não há macete algum para fugir disto. não existe evolução sem dor, sem renúncia, sem casulos. evolução só existe com rEvolução, sucção e desapego. permissão.

      num súbito acordar de um triste sonho-bom, adelaide começou a exercitar o fio de esperança que ainda existia dentro de si; e decidiu que antes de forrar o estômago pela manhã, pensaria no mínimo em 6 sonhos impossíveis¹.

      a fonte secou de vez.
      fez-se ali, entre raios alaranjados e disformes, um pacto de esperança entre adelaide e o destino.

      adelaide está no casulo.

      ¹ em "alice no país das maravilhas", 2010.

      lixo

      caraca!
      tudo o que escrevo é trash
      é lixo!
      e lixo, se joga no lixo!

      o ponto central que estou tentando poematizar desde ontem
      é que eu gosto de você
      sim... eu gosto de você!
      mais do que devia? sim!
      e ninguém tem nada a ver com isso
      inclusive essa minha necessidade de tentar firular tudo... caçildes!

      e é por isso que há um estranho bater de asas dentro de mim quando te vejo
      e não preciso te ver não! bastar escutar teu nome, ou pensar em você para a "bateção" de asas recomeçar!

      pronto, falei. e não precisou de palavras bonitinhas.
      me desculpe por este lixo
      você merece um céu estrelado
      e a certeza de um futuro certo, meu bem.



      adelaide estava nervosa com essa falta de criatividade
      e escreveu batendo com muita força no teclado.

      segunda-feira, 26 de abril de 2010

      anseio de adelaide


      que sorriso é este, adelaide? que sorriso é este que brota dos olhos teus?
      que música repetitiva é essa, que não sai do teu cantar?

      são teus! são teus pois estou condenada a isto
      e o pior de tudo, é que desejo esta condenação como ao ar!
      desejo preservar e adornar a página do teu aniversário, segurar em tuas mãos, saber sua cor preferida, o sabor do teu dentifrício, teus sonhos, loucuras, medos... 
      desejo ter-te para mim, meu bem (meu mal)
      desejo muito mais do que tens me dedicado...

      depois desta declaração,
      a única coisa que sei foi que
      o tempo fechou para adelaide...
      pelo menos desde que aquela porta se fechou.


      adelaide é aquela que espera.