as cores matinais realçavam seu olhar marrom-claro. os raios distorcidos do sol destacavam as linhas irregulares de um verde jamais visto no olhar de adelaide. era certo que existia uma certa estranheza em seus pequenos olhos. era desproporcional o caminho traçado pela força da queda d'água que a inundara na madrugada anterior. o que se via hoje, depois do café, era tão somente as marcas do devastador córrego. as cortinas alaranjadas do quarto de adelaide ganhavam um contraste hipnotizante com o sol das 6h15. e foi, exatamente este show silencioso que fez com que a cascata em seu olhar simplesmente falecesse - aquela cor era a personificação da esperança.
adelaide passou a madrugada inteira a pensar na tal lagarta azul que virara borboleta. pensou na beleza do poder de transformação e como deve ser dolorido acreditar que aquele período de reclusão é necessário para algo maior. constatou que para evoluir é preciso deixar-se evoluir, e que não há macete algum para fugir disto. não existe evolução sem dor, sem renúncia, sem casulos. evolução só existe com rEvolução, sucção e desapego. permissão.
num súbito acordar de um triste sonho-bom, adelaide começou a exercitar o fio de esperança que ainda existia dentro de si; e decidiu que antes de forrar o estômago pela manhã, pensaria no mínimo em 6 sonhos impossíveis¹.
a fonte secou de vez.
fez-se ali, entre raios alaranjados e disformes, um pacto de esperança entre adelaide e o destino.
adelaide está no casulo.
¹ em "alice no país das maravilhas", 2010.
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