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"isso é escrever. tira sangue com as unhas. e não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. você não está com medo dessa entrega? porque dói, dói, dói. é de uma solidão assustadora. a única recompensa é aquilo que laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. essa expressão é fundamental na minha vida."
(caio fernando abreu)

sábado, 24 de abril de 2010

o grito (skrik)

 
O Grito (skrik) - 1893
Edvard Munch

arranhe... arranhe-me a garganta, meu bem
venha! e me tome, me arrepie, me enlouqueça
tú sabes que me mandas, que me coordenas
tú és navalha cortando-me a carne
delicioso, entorpecente és tú!
chegastes reivindicando espaço, lugar, e tudo aquilo que não se deve nomear
capricho? pode ser...
só sei que minha língua arde para te satisfazer
venha, e me leve para aquele lugar onde o céu é laranja e grenar
naquela doca onde pode-se ver o entardecer de 1893

não venha com lero-lero... venha ligeiro, meu bem maior
sem convenções, vai!
tú bem sabes que minha boca por ti faz "O"
tens platéia! não estas sozinho
tens dois para te ouvir e
um lago para te dissipar...

só não me ensurdeça, ó grito
não me deixe esquecer a razão com teu estridente som
venha e acabe com essa angústia que me enlaça! venha me libertar (...)

sem mais nada a esperar...
minhas mãos irão neste insano devaneio me assegurar.

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