...

"isso é escrever. tira sangue com as unhas. e não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. você não está com medo dessa entrega? porque dói, dói, dói. é de uma solidão assustadora. a única recompensa é aquilo que laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. essa expressão é fundamental na minha vida."
(caio fernando abreu)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

riaida


era um entardecer como outro qualquer quando virei para ele e disse respondendo uma pergunta que não havia sido direcionado a mim: - "encontre-me entre dois vazios" -. acho que foi a frase mais verdadeira que já proferi em toda a minha vida. em cada letra unida havia a força e o gás que a frase precisava. as entrelinhas estavam carregadas desta tal constatação. - "um mergulho em você seria fatal" - respondeu-me e, timidamente, virou-se e partiu. sem adeus, sem paz. pra nunca mais voltar.

e é exatamente por isso que estou só, escrevendo essas palavras negras sem a cor que outrora costumava ter, condenada à mesmice de sempre, por minha fútil  e inútil profundidade. submersa entre dois nadas, sem chances de voltar a respirar.

não que te quere. não, não te quero mesmo. te desejo. e esse desejo é insano. fico abestalhada só de pensar em te sentir do meu lado,  como com farinha as tuas palavras e sonho em completá-las, sim! quero fazer um pirão contigo, rir das tuas piadas sem graça, fazer amizade com teus primos, viajar nos teus planos e rir com sua mãe num almoço de domingo.

queria ser sentida. assim, seria querida e tudo bastaria.

tudo mesmo.

Um comentário:

  1. 'por minha fútil e inútil profundidade'

    Cuidado! Gente rasa ainda consegue fazer muito mais mal.

    ResponderExcluir