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"isso é escrever. tira sangue com as unhas. e não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. você não está com medo dessa entrega? porque dói, dói, dói. é de uma solidão assustadora. a única recompensa é aquilo que laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. essa expressão é fundamental na minha vida."
(caio fernando abreu)

sábado, 8 de maio de 2010

transplantal

seus olhos eram dois faróis naquela estranha-escura estrada. suas roupas chamavam atenção sim, pois eram coloridas com a tinta de um arco-iris; daqueles iluminados que surgem após uma chuva de verão. mas, não tinha jeito. apesar de serem negros, seus olhos captavam a essência daquele momento, daquele dia normal, desses que as pessoas correm para pegar o ônibus ou para aproveitar o sinal fechado.
seus olhos captaram a correria, o atraso, a eminência de perder o emprego, a aula, a prova, o pão, a água, a vida. tudo esvaía quando, retilineamente/de forma um tanto curva, meus olhos encontravam com os dela. me chamou àtenção quanto amor dedicava àquela flor desbotada, sem graça, sem cheiro, sem vida. era uma relação quase que substancial, de dependência... o retrato do apego intenso, vival, transplantal. instigante.
com um sorriso de lado a lado, passava suas mortas pétalas no pêssego do seu rosto, como se quissesse transferir vida... seu jogo corporal me dizia "sei que nada posso fazer, não há chances" mas... seus olhos, aqueles que possuiam a luz de mil estrelas, me diziam outra coisa: "vai dar tudo certo".
e daquele sonho-real-sonho me acordei quando olhei o relógio e vi que já se passavam das 7.

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